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História - Tocando sempre em frente

m 36 anos de história, muito se fez "pra ver a banda passar, cantando coisas de amor", como compôs Chico Buarque. Acompanhe os passos dessa trajetória!

"Toda vez que o Consolata desfilava no 7 de setembro precisávamos convidar uma fanfarra para acompanhar os alunos", lembra Francisco Zuliani, o presidente da APM dos anos 70 e 71. Ele conta que esse incômodo motivou a direção do colégio e o grupo de pais a arrecadar fundos para a futura Fanfarra Consolata. Com recursos obtidos, consultaram o maestro Júlio César Pereira dos Santos, conhecido por reger várias fanfarras da cidade. Este falou-lhes sobre a corporação de um hospital que estava sendo desfeita e, por isso, o Consolata poderia arrematar os instrumentos e bandeiras. A recomendação foi acatada pela direção do colégio e APM. Júlio foi contratado, formando-se a primeira turma em 1971.

Logo de cara, o grupo mostrou a que veio: "Pouco tempo depois de fundada, nossa fanfarra já ganhava prêmios competindo com outras mais antigas", narra Maria Cecília do Nascimento, integrante do grupo nesse período.

Prêmios e mais prêmios

De 1975 a 1985, a Consolata foi uma das fanfarras mais premiadas do Brasil. Participava de concursos em várias cidades e muitas vezes competia - e ganhava! - com músicos profissionais, contratados para representar algumas escolas.

O campeonato da Rádio e TV Record era o mais prestigiado. Os desfiles eram na Avenida são João, com transmissão ao vivo para o rádio e a televisão. Os participantes eram divididos em várias categorias, de acordo com os instrumentos (o Consolata competia como fanfarra simples) e a idade dos integrantes. Os critérios de escolha eram rígidos, levavam em conta a qualidade musical, a apresentação e até a disciplina dos integrantes na concentração antes do desfile.

Por ser uma competição nacional, as apresentações eram aos domingos (a partir de 7 de setembro), por etapas: eliminatória (com as melhores escolas de cada região da cidade; final-capital (classificação dos melhores grupos da cidade); e final-nacional (com as melhores de todo o Brasil em cada categoria e a campeã geral, que recebia a medalha cívica da juventude).

Em 1982, foi realizada a última edição do Campeonato da Record, mas para que o confronto nacional continuasse, algum tempo depois uma conceituada comissão técnica organizou o Torneio Campeã das Campeãs. O maestro Júlio ensaiou a Nona Sinfonia, de Bethoven, com a fanfarra que, àquela altura, reunia 160 músicos mais a linha de frente. Como descreve Alina Aoás Corrêa, participante que viria a ser professora e assistente do Júlio: "Naquele dia, o ginásio do Corinthians veio abaixo". Era a consagração da Fanfarra Consolata.

Andando pelo Brasil

Vitoriosa, a fanfarra era muito convidada para participar de enventos públicos e campeonatos fora de São Paulo. "Saíamos mais de dez vezes por ano", recorda a profª Thereza Joly, ex-coordenadora do colégio, que também fez parte da organização da corporação musical.

São muitas as histórias dessa viagens. Pais, irmãs religiosas, professores e alunos reuniam-se em torno do brilho da Fanfarra Consolata. Uma das participações marcantes foi em 1980, com a apresentação nas comemorações do aniversário de Brasília. Naquele tempo, também era tradição a presença do Consolata no Playcenter, na festa da semana da criança. Depois de tocar pela manhã, os músicos ganhavam o passaporte para brincar o dia todo no parque.

Amizade

Para cumprir a agenda de ensaios e apresentações, o convívio entre músicos, pais e professores era muito grande e o grupo tornou-se tão unido que se encontrava fora dos compromissos da fanfarra.

A amizade partia do próprio Júlio. Aparentemente autoritário e rígido, não deixava de visitar os alunos que estivessem doentes ou com algum problema pessoal. "Ele era amigo das famílias e também supervisionava o namoro entre as pessoas do grupo", diz Alina - ela conheceu o marido na fanfarra.

Um exemplo do sentimento que movia esses integrantes foi Isabel Abuchaim, que sem nenhum filho na fanfarra, acompanhava-a passo a passo, onde quer que estivesse - alguns a consideram madrinha do grupo. Dona de uma loja em frente ao colégio, ela ficava atrás do balcão picando sacos e sacos de papel para serem atirados sobre os alunos durante o desfile. "Isabel liderava uma torcida organizada. Na semana que antecedia os campeonatos, chamava várias mães para ajudar com os papéis. Na hora da apresentação, ficava sobre viadutos, esperando o momento certo de contribuir para a festa", conta Edith Jandira Caccia Rosalem, ex-participante da APM.

Aos vinte anos

Em 1991, aniversário de duas décadas da fanfarra, ficou na memória não apenas dos membros do grupo na época, mas também dos antigos músicos, que fizeram uma participação especial. "A intenção era homenagear o Júlio. Levamos a idéia à direção que, junto da APM, apoiou totalmente", conta Alina, então assistente do maestro.

Para fazer um encontro das duas gerações da fanfarra, o grupo de ex-integrantes ensaiava à noite, escondido do homenageado. No dia 16 de agosto, alunos, pais, professores, ex-participantes da APM e autoridades assistiram a apresentação da fanfarra, com a música ensaiada pelo Júlio. Em seguida, saíram de cena e entregaram seus instrumentos à geração anterior, que tocou Nona Sinfornia — executada anteriormente no Torneio da Campeã das Campeãs. A emoção foi muito grande. Julio recebeu uma batuta de presente e fez um discurso de despedida, que só foi entendido mais tarde, quando seus problemas de saúde o impediram de continuar trabalhando.

A continuação

Com a morte do maestro no ano seguinte, Rogério Wanderley Brito, passou para o comando. Dois anos depois, deixou a atividade para dedicar-se aos estudos, quando assumiu o maestro Marcelo Bonvenuto.

Atualmente, a banda participa de concursos municipais, se apresenta em ocasiões variadas como datas cívicas, festas religiosas e eventos públicos e do próprio colégio. O repertório se ampliou, pois não se concentra apenas nas composições-padrão para banda e fanfarra. Incluem temas de filmes e músicas populares, mais conhecidas do público. A linha de frente também se modernizou. "Antes se restringia às bandeiras com alunos marchando, agora é mais coreográfica, com interpretação da música", explica Zélia Maria Noronha, professora que está há quase vinte anos com o grupo. O resposável por essa mudança foi Antônio Bonvenuto Neto, coreógrafo da linha de frente de 1988 a 2000. Ele instituiu a divisão por naipes coreográficos. Os movimentos são de marcha e dança, incluindo arte cênica. No visual, os uniformes foram remodelados, deixando um pouco de lado o estilo militar, predominante anteriormente. "O Consolata é um colégio muito organizado. Essa organização, aliada ao comprometimento e à estrutura da escola, é uma oportunidade de abrir os horizontes dos alunos", testemunha Antônio Bonvenuto.

"Quando acabou o concurso da Record, a maioria das escolas deixou de investir nas fanfarras. Hoje, os grupos ficaram restritos a algumas prefeituras e grandes organizações", constata o maestro Rogério. Para ele, o Consolata e todos os envolvidos merecem parabéns "por terem mantido esse trabalho tão importante".