Certamente as recordações
mais frescas e tenras que guardo
na memória incluem minha vivencia no Colégio Consolata,
instituição referência para fases da minha formação
intelectual, cultural e humana, compreendida na infância e
início da adolescência. Ainda
hoje me lembro com clareza, sem grandes esforços, o
dia em que realizei o teste seletivo para ingressar na
pré-escola.
Lembro-me também do meu
primeiro dia de aula. Confesso que
naquela época eu não entendia porque as crianças
choravam
tanto, contudo hoje, antagonicamente, compreendo porque
chorei ao deixá-la.
Muitas recordações
me fazem viajar no tempo em que a
brincadeira era coisa séria, em que fui uma estrela na festa
de natal e um cacto numa apresentação teatral.
Ah! Quantas coisas a gente pode
ser quando criança não?
Quantos nomes e sobrenomes ainda
guardados na memória...
Amiguinhos que hoje provavelmente
levam seus filhos à
escola, ajudam o próximo, administram seu tempo entre uma
reunião e outra, lutam para encontrar a felicidade, não
compreendem ou compreendem o tempo, a vida, e às vezes,
repousam seus pensamentos em algum lugar do passado buscando
recuperar o fôlego para mais uma etapa, jornada, desafio...
Quantos sabores, cheiros e sensações
se eternizaram, como o
pão com carne da cantina, a esfiha, a coxinha, as idas ao
recanto, os desfiles de 7 de setembro, as campanhas da
fraternidade, os ensaios pra festa junina, o conga, o bamba,
a carteirinha que não podia ser esquecida, o uniforme gala,
de educação física, as irmãs, as aulas, os
professores, a
iniciação científica, as gincanas, a vida brotando
e com ela
a racionalidade ocupando o lugar da fantasia...
Sempre fui uma criança,
digamos indisciplinada, nunca
recusei um bom papo, uma boa companhia, e claro, a
possibilidade de uma gostosa e sincera gargalhada,
lamentável ou não, faço isso até hoje, descobri
que é de
minha natureza.
Entre uma advertência e outra (foram várias
de indisciplina
e lição de casa) um castigo e outro, fui percebendo, a
duras
penas, que sou o tipo de pessoa que produz melhor sobre
pressão. Sou a típica brasileira que deixa tudo pra última
hora, que estuda um dia antes da prova, que procura resolver
o problema quando ele aparece, que pechincha o preço do
sapato, que não suporta injustiças e que acima de tudo
busca
compreender a si mesma e o mundo em que vivemos.
Por estas, e por tantas outras me senti profundamente tocada
e inspirada ao encontrar no oceano da Internet a historia da
escola que foi minha casa por tantos anos.
Posso me considerar privilegiada
por ter tido tantas mães,
pais e irmãos, alguns mais legais que os outros
evidentemente, mas nunca menos importante.
Posso me considerar privilegiada por ter a oportunidade de
expressar uma fração deste sentimento, e revelar a quem
possa interessar, que todos aqueles que cruzaram meu caminho
naquela época, me estenderam a mão mesmo involuntariamente,
para que eu me transformasse no que hoje sou, uma mulher que
respeita a vida, e realiza um investimento e empenho
absoluto pra vivenciar e cuidar das sementes plantadas
naquele período tão extraordinário.
Hoje aos 28 anos, bacharel em Psicologia, atuando no
Hospital das Clínicas, quando paro para pra pensar,
refletir, analisar ou me olho no espelho, ainda vejo
reflexos daquela criança curiosa que tem muitas lições
a
aprender, com a família, noivo, amigos, filhos, netos,
sociedade, e que chega a pura e simples conclusão de que
nada sabe, e que, levamos da vida a vida que a gente leva.
Basicamente é isso.
Um abraço a todos,
Valéria Pinhatari Nóbrega
vpinhatari@yahoo.com.br
9842 3852
Ano de formatura (8ªsérie)
1989.
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