Atualizado dia 20 de março de 2018 às 08h10min.
     
  Saída Cultural - Teatro - 1ªs E.M.  
     
 




Saída Cultural com os alunos das 1ªs séries do Ens. Médio, no dia 19/3.

 

 

O Auto da Barca do Inferno é uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente, representada pela primeira vez em 1531. É a primeira parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são respetivamente o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória).

Gil Vicente é comumente visto como o primeiro grande dramaturgo português, não se sabe ao certo onde e quando nasceu, porém estima-se que tenha vivido entre 1465 e 1536, tendo Guimarães como terra natal. Presume-se também que tenha estudado em Salamanca.

Sua obra é tida como o reflexo da mudança dos tempos, da passagem da Idade Média para o Renascimento, retratando uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, porém que a partir do questionamento começam a se subverter. Foi o principal representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.

Escrita em 1517, o Auto da Barca do Inferno é uma das obras mais marcantes do teatro vicentino onde se é feita uma crítica aos costumes da época, aplicando-se noções de Consciência e Inconsciência, Bem e Mal, Virtude e Pecado.

A peça inteira se passa numa espécie de cais onde há duas naus, uma regida pelo Diabo e seu assistente, e a outra por um Anjo, levando as almas para o inferno ou para o paraíso respectivamente.

E assim vão chegando os personagens cada qual com sua crítica. Relacionado à nobreza, vem o Fidalgo, ele por ser nobre crê piamente que deve ir para o paraíso, porém não é aceito sendo forçado a ser levado pelo Diabo mesmo, leva consigo a tirania e a ostentação. Depois vem um daqueles que exploraram ao máximo o próximo em proveito próprio, o Onzeneiro, praticante da agiotagem, leva consigo seu bolsão com os lucros adquiridos em vida de fora equívoca. Em seguida vem o Parvo, levando consigo sua simplicidade, este é o primeiro a ser aceito na barca do Anjo, pois se praticou o mal, não foi com a intenção. Vem então outro que faz as coisas em benefício próprio, na imagem de um Sapateiro que abarca lucros ilícitos.

Chega o primeiro representante religioso, um Frade dançando o tordião, levando uma espada de esgrima e sua amante, Florença, não é aceito pelo Anjo. Em seguida chega Brísida Vaz, uma alcoviteira, vendia mulheres em vida, praticava cirurgias genitais e realizava feitiços, também é levada pelo Diabo.

Vem aí o único a não ser aceito nem pelo Anjo nem pelo Diabo, um Judeu, levando um bode, ele tenta inclusive uma vaga pelo menos na barca rumo ao inferno, mas não consegue. Vale ressaltar que nessa época os não cristianizados não eram bem vistos. Em seguida um Corregedor e pouco depois um Procurador, que em vida não favoreceram a verdadeira justiça, mas favoreciam sim aquele que pagasse melhor, ambos são condenados à barca infernal. Surge então um Enforcado, ele se submeteu às condenações acreditando que por morrer de forma bruta seria imediatamente levado ao paraíso, mas também não é aceito, e como a nau do Diabo já estava cheia ele ordena que o Fidalgo pule no mar.

Por fim vêm quatro cavaleiros templários que morreram em nome de Cristo, estes são aceitos na barca com o Parvo e assim partem rumo à vida pós-morte.

A consciência de cada personagem é retratada a partir do reconhecimento do Diabo. Nenhum personagem, fora os quatro cavaleiros, reconhecem o Mal no primeiro encontro. Isso é ainda mais grave no caso do Frade, do Corregedor e do Procurador, pois eles deveriam ter um discernimento claro entre Bem e Mal. Já os Templários não só reconhecem o Diabo como sabem que este não é o destino deles.

Quando chegam à praia, todos os personagens dialogam com o Diabo e com o Anjo, numa busca por identificação. Conclui-se assim que Auto da Barca do Inferno é muito mais do que uma crítica mesclada num cenário pós-vida, mas sim as conseqüências das escolhas feitas em vida. Todos tem perante si o Bem e o Mal e na visão do autor, virtude é resistir à tentação, e pecado é ceder.

Bibliografia:
– Auto da Barca do Inferno
– Martin Claret
– Wikipédia
– Recanto das Letras

 

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